Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um querer mais que bem-querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha sem se perder.
É um estar-se preso por vontade,
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode ser o seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Busque amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperança,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Luis Vaz de Camões
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